
É fato que a Resolução n. 168/2004 era uma das mais atualizadas antes de se pensar nos simuladores de direção, mas não discriminava o quê e como se deveria ensinar a dirigir, tampouco dava indicativos para que os diretores de ensino e instrutores elaborassem e gerissem o plano pedagógico.
Precisou introduzir o uso do simulador para se pensar que a aprendizagem poderia ser atualizada e significativa. Está lá, no preâmbulo da Resolução 420/12: “Considerando o interesse no aperfeiçoamento e modernização do processo de formação de condutores [...] com a utilização de novas tecnologias desenvolvidas para essa finalidade;[...]”...
Mas também consta no preâmbulo da referida resolução: “Resolve: Art. 1º Disciplinar a nova estrutura curricular básica do curso teórico-técnico de formação de condutores [...]”
Mas será que essa inovação vai resolver mesmo? Por exemplo, a mesma Resolução que determina os conceitos básicos para se trabalhar o aluno focam no conhecimento da máquina e deixaram de fora conceitos básicos como o de trânsito como um espaço compartilhado; a necessidade de regras de convivência e a mobilidade humana, além do próprio conceito do ato de dirigir. Conceito este que na cabeça dos futuros motoristas ainda é andar em linha reta com o carro em movimento e bem sabemos que dirigir é mais que isso!
A meu ver, pela lida diária com aprendizes de direção e com motoristas recém-habilitados, conhecendo bem as dificuldades que eles têm e o modo como se envolvem em acidentes por imperícia, não concordo que o simulador seja usado antes das aulas práticas.
É necessário que o aluno construa primeiro o conceito sobre dirigir, que compreenda o seu significado, que tenha tido os primeiros contatos de verdade com o carro para ir aperfeiçoando com o simulador os comandos que não consegue fazer nas aulas.
Para que o ato de dirigir se torne significativo para o aluno ele tem que dirigir da mesma forma que aprende a caminhar: primeiro engatinha, depois anda e depois aprende a mudar a marcha. Aprender primeiro no simulador para depois ter contato com o veículo não parece ser uma boa estratégia, mesmo porque no carro é diferente, existe o movimento, existe os estímulos do ambiente, a percepção da sensibilidade dos pedais em diferentes situações que o simulador dificilmente vai reproduzir com fidelidade.
Que fique bem claro que não sou contra os simuladores de direção, mas sim a favor da reflexão do processo pedagógico como um todo para identificar o melhor momento de utilizar essa ferramenta tão importante. Sem esquecer os aspectos humanos do ato de dirigir.
Só espero que essa percepção de que a aprendizagem da direção veicular no Brasil possa ser melhorada pelos simuladores não simule a aprendizagem significativa. Até porque a humanização que tanto se espera para o nosso trânsito depende da valorização das pessoas no processo de ensino e de aprendizagem. Em tempos de humanização no trânsito, há que se pensar a (super) valorização das máquinas que ensinam a dirigir como tábua de salvação para um processo pedagógico inteiro.
Mas se a mudança que tanto se espera pode vir por essas máquinas de aprender a dirigir (e aperfeiçoada permanentemente) que seja bem-vinda!
Fonte: Portal do Trânslto
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